sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O DESCONHECIDO


 

            Tudo que queria era alguém que pudesse sentir o colorido do dia e o brilho da noite com a alma de uma criança. Uma família feliz, a calma, a tranquilidade da paz.

            Quando seus olhos ardiam, esperava que pudessem acolhê-lo, desejava ser tratado como um filho, como um amante.

            Seus pés doíam e sangue brotava de suas muitas feridas. Delirava, falando de algo que perdeu num país onde era querido, lugar onde ninguém jamais esteve.

            Sua voz ditava a felicidade do futuro que nunca chegaria a conhecer.


(Escrito vinte anos atrás, porém inédito.)

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

EXPLOSÕES MISTERIOSAS

            Já estava na mídia há algum tempo umas explosões que pareciam acontecer sem mais nem menos, geralmente próximas aos postos de gasolina. Eram tantas pessoas relatando o que viam e algumas inclusive filmaram, que não havia como duvidar do fenômeno. As explosões eram sempre pequenas, não causavam maiores danos e acabavam tão rápido quanto começavam. O que todo mundo achava mais estranho é que antes da explosão sempre aparecia o formato de uma pessoa. Nos relatos variava apenas a forma humana, às vezes homem, às vezes mulher. Mas o que quase todos disseram é que por uns segundos podia-se ver claramente a pessoa, a roupa que usava, seu rosto, cabelo, suas expressões. Estavam sempre sorrindo e então explodiam e tudo acabava rapidamente.
            Havia todo tipo de teoria, estava intrigando todo mundo mesmo. Foi mesmo para boca do povo. Todos queriam saber, ninguém sabia, todos explicavam e ninguém entendia. Virou moda, a moda enjoou e as explosões não acabavam.
          Muito foi falado a respeito, foram produzidos filmes, documentários, escreveram romances. O que parecia mais convincente na época foi a teoria de Julian Andreas Esquisitus, autor do best-seller "Explosões vampíricas" que afirma categoricamente, em suas mais de mil e quinhentas páginas, que essas explosões eram vampiros que haviam descoberto uma forma de morrer e que, muito cansados da eternidade, davam cabo da própria vida sugando gasolina até não mais aguentar, em dias ensolarados. Pois o sol, somente, não os matavam mais, haviam criado imunidade aos raios solares há séculos.

             Passaram-se vários anos e não se descobria realmente o que era aquilo tudo. Com o tempo as explosões foram se tornando cada vez mais raras até que finalmente acabaram e hoje nem se fala mais sobre esse assunto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

MORTE NO CINEMA

               Pobre Juvenal estava literalmente enlouquecido. Internado numa clínica psiquiatra já há mais de cinco anos repetia incessantemente a mesma coisa "eu não queria matar, só queria dar um sustinho!", dia e noite, se estivesse acordado e quando tinha pesadelos, o tema dos gritos era o mesmo. Mesmo não tendo sido acusado de homicídio por ninguém, insistia sempre na mesma fala. A família não tinha ideia do que tinha acontecido e, quando o internaram, imaginaram que se tratasse apenas de uma crise nervosa e que ele logo voltasse ao normal, o que não aconteceu. E nos últimos dois anos, praticamente o haviam abandonado.
            Muitos médicos nem ao menos tentaram descobrir o que havia acontecido e Juvenal continuava sempre na mesma. Sempre a mesma medicação, sempre igual. Apareceu, porém, no mês de julho daquele ano um psiquiatra excepcional, que não estava interessado em dopar seus pacientes com medicações cada vez mais fortes, mas em entender as razões de sua aparente loucura, seu descontrole emocional. Ele acreditava que para tudo havia uma razão e para tudo, portanto, haveria uma solução. Seu nome era Bartolomeu e ele estava decidido a devolver Juvenal à sua antiga vida.
            Nos primeiros meses nada mudou, não houve sequer uma pequena melhora em seu quadro. Mas o doutor era muito paciente e conseguiria ajudar Juvenal com calma e perícia. Claro que tinha muitos outros a tratar, mas nenhum caso o intrigou tanto quanto o deste. O que mais lhe chamou atenção no princípio foi o fato de ele insistir que matou, enquanto nada parecia confirmar tal afirmação. Mas algum tempo depois ele procurou a família dele, pesquisou como era sua rotina, procurou seus amigos e qualquer pessoa que o tivesse conhecido e sua busca dos fatos o levou a crer em algo absolutamente inusitado, mas não impossível. Então poderia ser que Juvenal não estava falando besteira alguma.
            O paciente não pareceu jamais se importar com a presença de outras pessoas perto dele, não respondia, não falava nada, exceto sua exclamação de arrependimento.Não prestava, aparentemente, atenção quando o médico lhe falava e assim foi até que ele  afirmou categoricamente que sabia exatamente o que tinha acontecido. Ao ouvir palavra por palavra do que o doutor dizia, parou com sua ladainha e quando o médico terminou de dizer, ele pediu a palavra, para lhe contar exatamente o que houve.
           Ele contou sobre a morte no cinema. Contou que nunca imaginou que poderia acontecer assim. Contou sobre o casal de idosos e de como saiu correndo. Jamais pode se esquecer da expressão da companheira do idoso.
               É que ele simplesmente não pôde resistir... era uma filme de terror! Terror! Como ele iria pensar que alguém com possíveis problemas cardíacos estaria no cinema para assistir terror?
             Ele sempre, desde criança gostou de assustar as pessoas. Mesmo as reações mais severas nunca o inibiram. Assustava sua família, amigos, conhecidos, colegas de trabalho, desconhecidos, pessoas na rua, não importava quem ou onde. Ele estava ficando mais viciado com suas brincadeiras conforme o tempo passava e chegaram a lhe sugerir que fosse buscar tratamento psicológico, que isso não estava certo. As pessoas estavam exagerando, ele poderia parar quando quisesse, pelo menos era o que acreditava até ter, bem num momento de grande suspense do maldito filme, dar um simples cutucão no idoso que havia se sentado com a mulher na sua frente e sussurar algo no seu ouvido, que agora não conseguia se lembrar. O homem morreu rápido, enquanto Juvenal olhava incrédulo e paralisado. Enquanto sangue jorrava em todos os personagens na telona do cinema. A mulher do idoso gritava: "Chamem um médico, chamem um médico!" E mesmo assim ele continuava apenas olhando horrorizado. Subitamente, sem pensar, saiu correndo. Ninguém tentou segurá-lo. Ele imagina que porque acreditavam que ele estava indo atrás de socorro. No dia seguinte foi internado na clínica.
              Mas as coisas não precisavam acabar de forma tão trágica. O médico descobriu que na verdade, o idoso não morreu e que não levou muito tempo para se recuperar. Disse que teve mesmo uma parada respiratória, mas que estava bem e absolutamente saudável, trabalhando em sua horta no quintal de sua casa. Mostrando fotos do homem restabelecido, perguntou se queria fazer uma visita. Mas tinha dúvida se o casal o receberia bem diante do que havia acontecido, mesmo que já o haviam perdoado.
               O doutor não se cabia de feliz enquanto via a recuperação praticamente imediata do seu antes triste paciente. Já havia recomendado uma dosagem menor do medicamento, que pararia completamente dentro de algum tempo. Logo Juvenal poderia retomar sua vida, rever sua família e amigos. Mas teria que aconselhá-lo a respeito de uma coisa: ele não havia aprendido a lição, estava assustando as pessoas na clínica. Claro que até o momento ele só rira, porque tinha que admitir que o paciente era o mestre do susto. Muito bom mesmo. Ia levando seus pensamentos por esse lado, distraído, sentado diante de sua mesa em seu consultório quando um homem mascarado gritando sem sentido entra correndo em sua sala. Tal como o idoso ele também teve uma parada cardíaca, mas diferentemente dele, não resistiu. O pobre Juvenal continua internado falando a mesma frase de antes; "eu não queria matar, só queria dar um sustinho!" Re recusa a dar atenção às pessoas e a falar qualquer outra coisa. Continua tendo pesadelos.
           








terça-feira, 15 de novembro de 2016

CASA DOS MORTOS


            Era uma casa antiga no centro da cidade. Daquelas que já abrigaram a Câmara Municipal e outras coisas oficiais. Agora estava fechada. De vez em quando aparecia alguém para cuidar da manutenção e uma equipe de segurança, contratada pela Prefeitura, mantinha monitoração pela internet.
            Como cresci na região, ouvia histórias estranhas, mas achava que eram lendas simplesmente. Eu e alguns amigos, quando crianças, falávamos o tempo todo em entrar, mas faltava coragem. A gente chegava perto e sempre tinha alguém que falava ter visto um vulto; outro um rosto. Depois eu perguntava para minha mãe se era o guarda e ela me olhava, horrorizada:
            ___Meu filho, fique longe de lá! Aquele lugar está tomado de gente morta! Não tem guarda nenhum lá, já te falei!
            E, de fato, naquela época estava mesmo meio abandonada.  O prefeito não tomava providência e havia até mato crescendo em todo o quintal e até na varanda, subindo para a porta.
            Eu tinha verdadeiro fascínio pelo lugar. Mas acabei esquecendo-o. Saí da região quando casei, fui morar num bairro mais para a periferia. Segui minha vida e jamais voltaria minha mente para o lugar... se não tivesse morrido.
            Até agora não entendi porque os vivos eram nossos inimigos. Era primordial evita-los. Não sei que mal poderiam nos causar. Talvez atrapalhar nosso sono, nosso descanso.
            Sim, uma canseira sem fim.
            Havia dois tipos de mortos: os bons, que só queriam se encolher num canto e descansar para sempre e os maus, que eram os importunadores, sua maior alegria era acabar com o sossego dos outros. Acho que eu estava na categoria dos bons, porque eu só queria dormir, de tanta canseira que estava sentindo.
            Um cara enorme estava puxando o cabelo de uma menina morta de uns doze anos, coitadinha! Foi então que ele voltou sua atenção para mim pois eu a puxei e juntos corremos para um quarto que eu chamava de “Quarto do Espelho”. Eu sabia, não entendo como, que ali era possível escapar da azucrinação dos maus. A menina ficou ali, encontrou um cantinho e se encostou para descansar.
            Não sei explicar o que aconteceu comigo, talvez fosse a claridade que vinha da janela a me chamar a atenção... Em alguns segundos eu estava no meio do quintal, mato e mortos por todos os lados. Eles pareciam dormir, mas eu não sabia se eram bons ou maus, resolvi voltar para dentro da casa. Ao chegar à porta, fiquei pensando em como faria para abri-la, já que a canseira dos mortos os impedem de fazer muita força e, além do mais eu já havia me movimentado muito por um dia (ou uma semana, um mês, não sei, o tempo não faz muito sentido aqui).
            Enquanto divagava, um dos mortos que eu julgava ser bom, estava agora com uma cara ótima, quase nem parecia morto, veio e abriu a porta. Estranho! De onde tirou a força? Olhei-o com surpresa, ele me viu e fez sinal para me afastar e disse:
            ___Estou abrindo a porta para os vivos. Se afasta que não quero que eles te vejam!
            Jamais esperaria por tal traição!
            Já, mais poderei voltar à casa!
            Depois que os vivos apareceram, perdemos o descanso, perdemos o  lar. Estamos agora perdidos, sem conseguir chegar a lugar algum. Nunca encaramos os vivos, para que não nos vejam. Às vezes alguns nos veem, então saímos de perto, mas não tem problema, ninguém acredita mesmo.
            Vagando, vagando... o que eu queria mesmo era descansar.

terça-feira, 12 de julho de 2016

CANIBAIS


            Eles eram diferentes, sim, muito diferentes de quaisquer outras famílias que conhecessem e com as quais viessem a conviver e, por causa de sua particularidade, acabavam tendo que não morar muito tempo em cada canto e já fazia tempo que queriam descansar, criar finalmente raízes em uma tranquila cidade pequena. Por esta razão, Josephine, a mãe e Pietro, o pai, haviam decidido que não mais comeriam carne humana. Claro que eram viciados, mas estavam dispostos a abrir mão do delicioso vício em troca de sossego.
            Há quatro meses moravam em Santa Cruz do Sudeste, município de três mil habitantes aproximadamente, cercada por meio rural, muito isolada. Ficavam bem em qualquer lugar que escolhessem para morar, pois eram comerciantes que se adaptavam às necessidades da região. Trabalhavam até tarde, voltavam para casa cansados e iam dormir. Pessoas comuns, não fosse o vício macabro.
            Christofer, o filho mais velho, de cinco, era um galante e bonito rapaz de vinte anos. Conquistava as meninas da região assim que cruzassem seu caminho pela primeira vez. Melissa tinha dezessete anos, muito simpática e conversadeira, sempre pelos cantos com meninos, era a preocupação maior dos pais, que temiam encontrá-la grávida de uma hora para outra. Júlia, Christian e Stéphanie eram os menores, com dez, sete e cinco anos de idade.
            Compraram uma casa muito grande, com quintal espaçoso, onde podiam ter gatos e cachorros. Ficando à apenas uma quadra do imóvel comercial que alugaram para vender suas mercadorias, era fácil para a família conciliar suas atividades diárias.
            Acabaram se aproximando de uma família vizinha, tornando-se relativamente amigos. A amizade foi se tornando mais íntima e passaram a conviver cada vez mais. A outra família também era grande e a casa da família estava cheia de pessoas todas as noites, jogando cartas, tomando cervejas e as crianças brincando ou largadas num canto qualquer.
            Estava tudo indo às mil maravilhas, quando um bêbado entrou na casa, pois encontrou a porta aberta e para ele, pareceu motivo suficiente para que fosse fazer parte da reunião que acontecia. Ele entrou com uma garrafa de cachaça na mão e uma faca na outra, dizendo que iria estuprar a primeira "mulherzinha" que encontrasse ali dentro. Enquanto Pietro, o pai, se maldizia em silêncio por ter se esquecido de soltar os cães, ia procurando a arma que guardava num canto escondido da cozinha. O bêbado, mesmo não muito rápido, já estava prendendo a Melissa, pela cintura. A menina não conseguia se soltar e gritava desesperada, quando o pai veio em seu socorro, dando seis tiros no bandido, que caiu no tapete clarinho da sala de estar, manchando-o de sangue.
            Todos olhavam estarrecidos para o cadáver, enquanto a anfitriã ia pensando em como preparar o homem para um jantar maravilhoso na próxima noite. O marido chamou-a num canto, pois já havia adivinhado suas intenções pelo olhar nada discreto. Ele não queria problema com a polícia, matou o homem em legítima honra da filha, que havia invadido a casa...
            ___ Meu querido, ___ argumentou ela___ Você sabe como são essas coisas de justiça... Já se esqueceu da última vez? Além disso, ele parece tão saboroso... essas gorduras, essa flacidez... E de qualquer forma, dá pena em pensar que desperdício seria.
            Não perceberam que o casal de visitantes estava ali ouvindo tudo.
            Diante dos fatos, Pietro decidiu contar tudo a eles, sobre seu vício, como preparavam carne e humana e como era delicioso, mas que sabia que isso era uma atitude humana, comer outros seres humanos. Disse que se entregaria à polícia de qualquer jeito.
            Enquanto o hóspede simplesmente ouvia, sem saber o que dizer, as mulheres, de mãos dadas, se dirigiam à cozinha para preparar os temperos para marinar a carne dura do homem. Josephine estava feliz, encontrou uma amiga que a entendia.
            O pai mandou que os filhos fossem jogar videogame no quarto ou ver televisão, enquanto ele e o vizinho, agora já totalmente cúmplice, imaginando já o gosto da carne (mas decidido a não comer a cabeça do homem), o ajudava despindo-o e depois cortando sua carne em pedaços pequenos.
            O trabalho foi tão cansativo que praticamente dormiram em pé e na manhã seguinte, o comércio da família abriu a porta mais tarde, para confusão dos clientes, que já estavam acostumados com a pontualidade para comprar pão para o café.
            Mas compensou magnificamente, pois o jantar estava fabuloso.
            Stela, a vizinha, tomou a liberdade de convidar outras pessoas, levaram bebidas e foi uma verdadeira festa.
            Surpreendentemente a cidade toda se tornou violenta, muitos homicídios com ocultação de cadáveres, ou parte deles. E o prefeito, desesperado, mas que já havia provado o gosto da carne humana, decretou que todos os criminosos seriam sumariamente exterminados, mas preparados com sofisticação no restaurante mais caro da cidade.
            Uma cidade inteira viciada em carne humana. Quem queria saber de galinhas ou vacas?
            Todos queriam comer, ninguém queria ser comida. Na falta de criminosos, surgiu uma organização chamada "Vigilantes do crime", saíam armados vigiando cada canto da cidade, tudo passou a ser crime, inclusive não separar o lixo ou olhar de forma estranha ou distraída para o lado.
            As pessoas começam a desaparecer misteriosamente, além de serem servidas com mais frequência. Josephine e Pietro, depois de comerem a última pessoa da cidade decidiram preparar as malas para se mudarem mais uma vez.


09/10/2013.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

A MULHER QUE BELISCAVA    
           
            Você me perguntou sobre a peça, chata, muito chata. Roteiro ruim, figurino ridículo, cenário de nada... Pra não dizer que não valeu a pena ter ido e ao mesmo tempo explicar por que ainda estou rindo o que tenho a dizer é que tinha uma mulher lá que beliscava.
            Como assim não entendeu? Beliscava, sabe, dava beliscão. Bem no meio da peça, sai de lá detrás da plateia uma mulher bem vestida e, sem mais nem menos, começa a pedir licença e vai beliscando as pessoas, sem nenhum preconceito, vai beliscando mães e bebês, crianças e idosos, casais de namorados e todo mundo fica sem reação nenhuma.
            As pessoas se enfurecem, brigam, praguejam mas não fazem nada mais sério. No fim alguém diz que faz parte do teatro e todos começam a rir, inclusive alcançando a mulher e lhe dando algumas beliscadas também.
            Depois de muito beliscar na plateia ela parece se cansar, dá uma espreguiçada, olha para os atores, que fazem de tudo para ignorá-la e vai em direção a eles. Belisca-os.
            Enquanto eles ainda representam a peça chata, um pouco mais animados porque agora as pessoas não se aguentam mais de tanto rir, ela vai lá e os belisca, um por um, enquanto eles apenas a encaram boquiabertos. Na verdade ninguém sabe o que deve fazer e pensam que é melhor fingir que não está acontecendo nada.
            Depois de agir como queria, dando seu trabalho por encerrado, ela sai do palco, olha atentamente para a plateia para ver se alguém ainda não foi beliscado e concluindo que já terminou, encaminha-se para a saída e, como ninguém a detém vai embora sem mais nem menos.
            E a plateia antes entediada, foi conquistada por alguns beliscões e saiu elogiando a peça.



SÁBADO (OPINIÃO DE DOMINGO MALCRIADO)

           
            Os sábados são.
            A espera interminável.
            O outono nas pessoas.
            A lembrança viva do ontem.
            O som pálido do violino na vitrola.
            O silêncio que perdeu a voz.
            A garoa serena da manhã.
            A humilde intenção de não acordar amanhã.
            O vento que não se cansa.
            O jamais. O talvez.
            O descanso para os afogados.
            O peixe na beira do mar.
            A tristeza da alegria.          
            O tudo de mãos dadas com o nada.

            O vazio transbordante.